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Quando a Dor se Transforma: O Poder de Consolar e Ser Consolado

Foto do escritor: Reildo SouzaReildo Souza

Atualizado: há 6 dias

Já se sentiu como se um tsunami emocional o atingisse sem aviso prévio? Uma onda avassaladora de tristeza, tão profunda que as lágrimas brotam sem que você consiga identificar uma causa concreta? Foi exatamente assim que me encontrei certa vez. Uma crise emocional me dominou por completo, a dor era lancinante, um choro compulsivo sem um motivo aparente para justificar tamanho desespero. Meus pensamentos se embaralharam, como se décadas de emoções reprimidas tivessem decidido emergir simultaneamente, exigindo sua manifestação. Era uma tempestade interna, um caos que parecia não ter fim.

Em meio a essa turbulência, um instinto primordial me guiou: a oração. Clamei a Deus por alívio, por uma direção que me guiasse através daquela escuridão. E então, como uma resposta quase imediata, meu telefone tocou. Era uma amiga próxima, com a voz embargada pela necessidade de compartilhar algo que a afligia.


"Rey, que bom que você atendeu! Preciso muito conversar, não estou bem. Estava rezando e você me veio à mente", disse ela, com a urgência de quem busca um porto seguro em meio à tempestade.


"O que aconteceu?", perguntei, com a genuína preocupação de um amigo.

Por cerca de trinta minutos, me dediquei a ouvi-la atentamente, tentando oferecer o suporte e a compreensão que ela tanto necessitava. Ao final da conversa, sua voz transmitia alívio, e seus agradecimentos ecoaram como um bálsamo. Contudo, assim que desliguei, a tristeza que me assolava retornou, quase como um fantasma persistente. Olhei para o céu, buscando um contato visual com essa Inteligência Causal e Suprema que chamam de Deus, e em um misto de indignação e súplica, exclamei:


"Deus, o Senhor está com problemas de audição, ou deve estar havendo alguma interferência no Wi-Fi, só pode ser! Eu rezei pedindo consolo para mim, e o Senhor me manda alguém para eu consolar? Eu não mereço compaixão? A minha dor não é digna de atenção?"


A indignação durou apenas alguns instantes. Logo, a necessidade de me reconectar com a oração me impulsionou novamente. Desta vez, tentei ser mais específico em meu pedido, buscando clareza na comunicação com o divino, como se pudesse evitar futuras "falhas" na transmissão. Mas, antes que pudesse concluir minha prece, o telefone tocou novamente. Era um amigo querido, com quem não conversava há algum tempo.


"Oi, Rey, tudo bem? Que saudade! Como estão as coisas?", perguntou ele, com a alegria de um reencontro.


"Estou com alguns problemas", respondi, com uma ponta de esperança de finalmente encontrar o consolo que buscava. No entanto, a resposta que se seguiu me pegou de surpresa:


"Nem me fale, Rey, eu também estou com um problemão..."

Meu amigo então começou a descrever a situação que o afligia, e o mais intrigante é que me identifiquei profundamente com o que ele estava sentindo. Havia um eco de minhas próprias angústias em suas palavras. Por quase uma hora, compartilhamos nossas experiências, e tentei oferecer a ele diferentes perspectivas sobre seus dilemas. Ao final da conversa, seu tom era de alívio e motivação, e seus agradecimentos soaram como uma melodia reconfortante. Nos despedimos com a promessa de manter contato.


Ao desligar o telefone, uma sensação peculiar me invadiu. A dor que me acompanhava ainda estava presente, mas sua intensidade havia diminuído drasticamente. Era como se tivesse perdido parte de sua força gravitacional. Foi então que a ficha caiu: as ligações não foram um desvio de minhas orações, mas a resposta em si. Meu campo mental estava contraído, aprisionado na órbita de minha própria dor. Meu foco estava tão concentrado em meu sofrimento que me impedia de enxergar além dele. Ao me permitir ser um instrumento de auxílio para o outro, meu campo mental se expandiu automaticamente. A dor deixou de ser o centro de meu universo, perdendo sua dimensão avassaladora.


Essa experiência me ensinou uma lição profunda sobre a natureza da empatia e do serviço ao próximo. Quando nos concentramos exclusivamente em nossas próprias dores, criamos um ciclo vicioso de sofrimento. Mas, ao nos abrirmos para as necessidades dos outros, ao nos tornarmos canais de amor e compaixão, paradoxalmente encontramos o alívio que tanto buscamos. A verdadeira cura, muitas vezes, não está em receber consolo, mas em oferecê-lo. A caridade, portanto, não é apenas um ato de bondade para com o próximo, mas um poderoso instrumento de cura para nós mesmos.



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