Existe um abismo, uma fenda profunda, entre Instrução e Educação. A primeira, Instrução, reside no ato de transferir e acumular informações, um processo fundamental, sem dúvida, mas que, por si só, não garante a plenitude do desenvolvimento humano. Imaginem um depósito repleto de caixas etiquetadas com os mais diversos conteúdos: história, matemática, ciências... Essa é a instrução: o estoque do conhecimento.
Mas a Educação, ah, a Educação! Ela transcende a mera acumulação. Ela bebe da fonte do verbo latino educare, que evoca a imagem poderosa de "tirar de dentro". É o ato de extrair o potencial latente, de acender a chama interior, de transformar a informação bruta em sabedoria viva. A Educação é a arte de colocar em prática o conhecimento instruído, de integrá-lo à nossa essência, de moldar nosso caráter e nossas ações. É a jornada do conhecimento inerte para a sabedoria aplicada.
E aqui reside uma verdade que ecoa em nosso cotidiano: nem sempre o instruído é educado, e nem sempre o educado é instruído. Que paradoxo fascinante! Quantas vezes nos deparamos com indivíduos detentores de vastos currículos, repletos de títulos e diplomas, mas que demonstram uma pobreza gritante em suas atitudes, em sua capacidade de se relacionar com o próximo, em sua inteligência emocional? E, por outro lado, quem nunca se encantou com a sabedoria emanada de pessoas simples, com pouquíssima instrução formal, mas com um coração generoso e uma compreensão profunda da vida?
Instruir-se é, sem dúvida, essencial. A ampliação do conhecimento nos oferece um leque maior de perspectivas, nos presenteia com ferramentas para interpretar a complexidade do mundo. É como receber um mapa com diversos caminhos possíveis. Mas para que essa interpretação seja verdadeiramente eficaz, para que esses caminhos nos levem a um destino significativo, a instrução precisa ser legitimada, nutrida pela Educação, principalmente sob a ótica emocional. Vemos tantos acadêmicos brilhantes, mentes privilegiadas, paradoxalmente "paralisados", presos em suas próprias certezas, incapazes de exercer a empatia, de considerar perspectivas divergentes das suas. É como ter um mapa completo, mas se recusar a sair do ponto de partida.
E o processo de evolução espiritual, essa busca incessante pelo nosso melhor eu, não foge a essa dinâmica. Ao nos propormos a crescer, a nos aprimorar, inevitavelmente nos deparamos com conflitos internos, com o choque entre o que sabemos que devemos ser e o que efetivamente somos. Essa dissonância entre o "ideal" e o "real" gera uma cobrança interna implacável, a dolorosa consciência de que conhecemos o caminho, mas ainda não o trilhamos plenamente.
Esse conflito interior, essa batalha entre a instrução e a educação em nosso íntimo, pode ser convenientemente mascarado por mecanismos de fuga, artimanhas da nossa mente para evitar o confronto com nossas próprias sombras. A negação, a projeção, entre outros, atuam como anestésicos temporários, aliviando a dor do autoconfronto. Entretanto, essa fuga, por mais sedutora que pareça, inevitavelmente retarda nosso processo de autoconhecimento. Ao nos esquivarmos da realidade, construímos um muro entre nós e nossa verdadeira essência. Este tema, a fuga da realidade, é tão rico e complexo que merece uma análise aprofundada. Prometo a vocês um artigo dedicado a desvendar esses mecanismos de autossabotagem!
Mas, acima de tudo, é vital que tomemos consciência desse conflito interno. É crucial reconhecer a distância entre o saber e o fazer, entre a instrução e a educação, para que possamos nos aceitar com compaixão e evitar o desânimo durante essa jornada de autodescoberta e aprimoramento. A aceitação não significa complacência, mas sim o ponto de partida para a verdadeira transformação. É reconhecer o presente para construir um futuro mais alinhado com o nosso Eu mais elevado. É acender a chama da Educação, permitindo que ela ilumine o caminho da nossa evolução, transformando a instrução em sabedoria e o conhecimento em ação.
Vivemos num mundo que estimula nossa "compulsão" à instrução, ao mundo que habita, evoluiu e muda e que está "fora" de mim. Saber, saber aprender, saber fazer, saber conviver... e o saber ser? Essa corrida as vezes nos deixa distante demais do "ponto de partida" de todas as coisas, esse "Eu" precioso e por vezes negligenciado, que suplica de nós o mesmo empenho e dedicação de também ser desenvolvido.